domingo, 6 de setembro de 2015

"O princípio de uma nova vida" - Slogan funerário (Parte I)



O mundo parou no dia  21 de julho de 2012 (pelo menos para mim), ou talvez fosse o prelúdio de um recomeço. 
Era como se aquele ato fosse a chave para abrir as portas do inferno, e de lá saíram todos os demônios que me atormentavam noite e dia.
Palavras malditas eram proferidas o tempo todo em minha mente, e no meu corpo havia uma dor tão lancinante e intensa que subia de minha barriga, até a minha cabeça.
 Essa dor não era física, e se outrora não for psíquica, que chamemos de espiritual. 
   Fracassados ou covardes?  Acho que nunca tive tanta coragem em minha vida.
Aquele dia estava totalmente fora de mim, não agi por impulso pois deixei uma carta que até hoje não recordo o paradeiro. Nela haviam as futilidades que me fizeram tomar aquela decisão e no meu coração nunca houve tanta paz! 
Eu já não ouvia mais aquelas vozes malditas, e foram um de cada vez... Alguns goles d´agua até somarem 56, entre eles "controlados". 
Passou-se alguns minutos, veio uma escuridão seguida de um silêncio absoluto. 
Estava consumado! 




Até que eu abri os olhos... E foi a pior sensação do mundo! Como começar a viver, se eu já havia me contentado com a morte e recebido a sua paz em meus braços? Dali em diante as coisas pioraram bastante. Os pensamentos aumentaram, e estavam regados pelo fracasso de minha ação. 
O inferno voltará a me rondar.
Me tentou e tentara me levar daqui, mas entre remédios, cordas e cortes, 
percebi que talvez eu seja importante para uma autoridade superior, e que há razões para minha existência.


Se não fosse o apoio de minha família, eu não estaria mais entre vocês, e não haveriam razões para lutar. Foram dois anos terríveis, mas que me fizeram amadurecer o bastante para entender que há uma solução para qualquer problema, ainda que não hajam problemas ( No caso de uma depressão, aquela tristeza que vem do nada). Esta postagem é um alerta para vocês que assim como eu, buscaram ou estão pensando em buscar a "saída" na morte.


Oi, hoje eu convidei você até aqui para uma introspecção. Não se acanhe, entre e sente! Quero conversar com você e contar o que aconteceu... Mas antes de tudo, gostaria de saber como você realmente está? Calma! Não seja superficial com só um "estou bem", ou um " estou mal" , quero saber como você está se sentindo, e como esses sentimentos estão influenciando sua vida. 
Estamos num mundo tão superficial, vivemos de aparência, e eu realmente não quero que você se sinta feliz, eu quero que você seja feliz!  Vasculhe a sua volta, ou o seu interior e encontre uma razão para não desistir! Eu quero ver você alcançando os seus objetivos, ainda que na sua cabeça não haja mais solução, você não dará ouvidos a estas vozes... Você nasceu para vencer.



Se há nesta vida uma certeza, é a de que um dia "nossa hora" chegará.
A morte não é seletiva, não se importa com o credo, raça, condição financeira, profissão e idade.
 É uma ordenança vital: Nascer, crescer, se reproduzir e morrer.
Na sexta-feira eu estava no pré-vestibular, com as minhas amigas. Duas horas depois estava em uma funerária, pois dentro de umas duas horas adentraria o velório de um rapaz de 19 anos, que por algum motivo suicidou-se... Ele era amigo do meu sobrinho.
Não consigo aceitar quando um jovem morre. Eu vejo os sonhos, sorrisos, metas, ilusões e projetos apagando-se e decompondo-se em um caixão à 7 palmos! 
Mais doloroso do que a morte, é ver a dor dos familiares e amigos que não entendem a situação se sentindo impotentes mediante a morte inexplicável do rapaz.


Chamei o pai para conversar um pouco, ele precisava desabafar e arrancar de si os cacos de uma perda tão repentina. Quando um pai perde um filho, ele vai definhando até morrer totalmente, aos poucos... O desfecho foi se deparar com o filho pendurado ao meio-dia. 
As lembranças brotavam e cada um tem uma história pra contar dos momentos em que passaram juntos, mas a duvida era lacerante: Bebida, mulher, problemas familiares ou drogas? Não, só um menino que fazia as coisas que um menino de sua idade fazia, mas que talvez tivesse as dores que os outros não tem.


Sentada ali na funerária, a minha vida puxou uma cadeira e começou a conversar comigo. Trouxe-me a memória o ano de 2012 e o quanto minha vida mudará pra melhor...Tudo isso de forma bem baixinha. Me deu um sermão, e me fez pensar que há alguns anos era pra ter sido eu, mas não sou eu quem mando no meu destino! Não tenho o poder de decidir a hora, e sim ela.
Disse-me que eu estava perdoada por atentar contra a dádiva que era viver! E que haviam tantas pessoas querendo o milagre deste fôlego de vida, que eu era uma ingrata,
Um suicídio mancharia minha família por gerações, e ninguém entenderia. A permissão de conversar com o pai do rapaz, foi uma peripécia dela para que eu visse a imagem do desespero que a minha mãe passou, e sentisse na pele a dor que é perder alguém.

-Passe a viver, Rafaela. Ela disse.

A vida retirou-se quando um empregado da funerária anunciou baixinho na recepção que o cadáver estava pronto. Continuei refletindo, mas o tio do rapaz me distraiu quando disse que o velório começaria as 19:30 pm. Abraçai o pai, desejei-lhe forças e por vontade permissiva de algo maior, não vi o corpo do rapaz. Seria um choque ver-me refletida na pele maquiada dele, sem vida, sem sonhos, mas em paz.



Quando a morte conta uma história, você deve sentar para ouvi-la e buscar aprender o máximo que dessa vida nada se leva! Vivemos em busca de um ideal de perfeição, e tantas outras coisas superficiais que nos esquecemos de viver, ou de como estamos indo.
                                                                      
Deus console o coração de toda a família, 
Deus o tenha em um bom lugar! 

...E quanto a nós que ainda estamos aqui, se o seu peito ainda bate: Que bata forte, viva!


Mas afinal, como vai a sua vida mesmo? 




4 comentários:

  1. Que post fortíssimo Hanna O.o
    O suicidio é algo tão dificil de explicar, tão dificil de falar sobre. Já me deparei com a morte várias vezes, e por muitas por um fio quase fui embora. Mas Deus ou a vida, não deixou. Desde então, tenho me controlado a não tentar, porque um dia vai.
    Fico feliz que você esteja conosco, é tão dolorido ler algo como o que houve com a Sally. A parte pior é quando pedimos pra pessoa viver, mesmo nós não seguindo o concelho.

    Há um tempo atrás impedi um garoto que conheci na internet de se matar. A história dele é , não existe palavras pra dizer o que ele vive ou viveu. ( Perdi o Contato ). Aquilo me consumiu de um tal forma, fiquei tão desesperada. Por milagre nada aconteceu. Hoje em dia eu não sei como ele está, nunca mais ele apareceu. :/ Espero que esteja bem.

    Amei o seu post, li ele todinho. Gostaria de ler a 2° parte.

    Abraços da Lua

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  2. Que postagem, minha cara, que postagem....

    A coisa mais linda que eu li aqui:
    "Me tentou e tentara me levar daqui, mas entre remédios, cordas e cortes,
    percebi que talvez eu seja importante para uma autoridade superior, e que há razões para minha existência."

    Mas a gente não vem só pra nascer, crescer, se reproduzir, envelhecer e morrer... no meio disso tudo, existe uma palavrinha chamada evolução... cada um precisa buscar a sua. Né fácil, nem impossível. Vamos juntaaaaaaaaaas.

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  3. Olá Hanny!

    Ah a cadeira, pode ser o objeto da reflexão ou instrumento do suicídio.

    Antes de eu conhecer o meu marido, o primo dele que é muito parecido falsificou a assinatura dele, foi no banco roubou todo dinheiro que o meu marido levou a vida inteira para juntar.
    Meu marido amarrou uma corda no teto e ironicamente usou uma cadeira, subiu, fez um nó, empurrou a cadeira com os pés e se enforcou.
    Por muita sorte ou vontade divina, um tio veio visitá-lo bem na hora, entrou na casa e cortou a corda com um facão.
    Tempos depois o banco reconheceu que a assinatura não era dele e devolveu o valor com juros e correção.

    Sobram cadeiras e desesperados no mundo, e faltam pessoas como você, são raros os seres humanos dispostos a ajudar o próximo sem nada pedir em troca.

    Parabéns pela iniciativa de abordar o tema neste belo texto.


    Beijinhos ^^

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  4. Que texto lindo!
    Levou-me a várias reflexões, você soube muito bem o que fazer com a sua experiência. Acredito que Deus tenha lhe dado mais uma chance, você sem dúvidas é uma moça linda e muito importante.
    No passado costumava dizer que "quem se mata não tinha fé" mas precisei passar por maus bocados mentais para entender que não existe covardia ou fracasso, quando o assunto envolve uma dor intensa e desconhecida.
    Ultimamente tenho sido duramente afrontada por uma pergunta que, provavelmente veio do inferno.
    "O que ainda estou fazendo aqui?".
    Mas Deus é maior e todo o resto não importa.
    Obrigada por este texto!
    Abraços

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